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Nuno Vasco Lopes: "temos de desenvolver alternativas às soluções existentes"

Em entrevista à Computerworld, Nuno Vasco Lopes, CEO e Presidente da Comissão Executiva da Glintt, fala da forma como a Glintt mantém os ciclos de vendas e se adapta aos novos formatos de apoio ao cliente tendo em conta a pandemia Covid-19.


Como está a capacidade de entrega e implementação de novas soluções e produtos? 

Perante esta pandemia provocada pelo vírus SARS-CoV-2, a Glintt atuou de forma rápida e focada na disponbilização de soluções para os seus clientes, de forma a que estes se protejam e consigam também proteger os seus clientes e colaboradores. A nossa resposta tinha de ser rápida, principalmente na área da saúde onde a Glintt tem uma presença muito relevante e a transformação não podia esperar.

Como exemplo desta resposta rápida, dia 8 de abril desenvolvemos juntamente com a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) e em colaboração com a Organização Mundial de Saúde (OMS) uma ferramenta gráfica, destinada a ser utilizada por especialistas seniores em planeamento de cuidados de saúde e decisores políticos - a ADAPTT Surge Planning Support Tool

A ferramenta é flexível, permitindo que os utilizadores dos vários países insiram os seus dados epidemiológicos, variem os cenários de mitigação (ao usar o modelo epidemiológico ilustrativo da ferramenta) e adaptem a ferramenta a diferentes Attack Rates

A ADAPTT possibilita a introdução das práticas e atividades hospitalares, assim como a capacidade de diferentes tipologias de camas e de recursos humanos (usando os códigos ISCO da OIT). Através desta ferramenta é ainda possível determinar os incrementos de necessidade de recursos humanos, devido à probabilidade de infeção dos profissionais de saúde. 


Quais os produtos ou soluções que as empresas mais estão a adquirir?

A atividade na área da saúde representa cerca de 75% do volume de negócios da Glintt e uma vez que as nossas soluções são utilizadas em mais de 200 hospitais e clínicas e em 14.000 farmácias na Península Ibérica, as mais requisitadas foram as de necessidade imediata, ou seja, que possibilitassem a melhor adaptação ao Estado de Emergência nacional.

Apostámos em soluções de videoconsulta​ através do nosso software hospitalar – o Globalcare​ – em conjunto com um parceiro, a Hopecare – primeira empresa Portuguesa de telessaúde a aliar serviços a produtos e a plataformas tecnológicas de ponta que permitem a prestação de Cuidados Sociais e de Saúde sem barreiras e à distância. Esta parceria tem como principal intuito fornecer, em conjunto, uma ferramenta de videoconsultas às entidades de saúde.  


Na assistência e apoio técnico as solicitações cresceram? Tiveram de fazer algum tipo de ação especial para dar suporte aos pedidos nesta fase?

Foi com o objetivo de ajudar os nossos clientes que delineámos um conjunto de medidas de ajuste aos nossos serviços de forma a continuarmos a prestar toda a assistência necessária. Apostámos na Assistência Remota (24h por dia, 7 dias por semana) com a ajuda de softwares de videoconferência que nos permitem prestar auxílio total aos clientes com maior rapidez, evitando assim visitas que comprometam o seu normal funcionamento. A nossa área de consultoria – Adjustt – preparou a sua equipa e adaptou o seu modelo de intervenção para, com o recurso à tecnologia e de forma remota, poder dar o máximo apoio principalmente às Farmácias na implementação do Plano de Contingência desenvolvido. 

Conscientes da complexidade que o período que atravessamos representa, adaptámos a capacidade dos nossos clientes em continuarem com a menor disrupção possível a sua atividade com base em soluções de acesso remoto que instalámos, monitorizámos e demos suporte durante todo este período. A generalidade dos processos da atividade dos nossos clientes foram alterados ou tiveram flutuações de atividade muito significativas. Todas estas alterações foram implementadas em tempo record e com empenho e dedicação de todos os clientes, parceiros e colaboradores envolvidos.


Como foram os primeiros dias?

Desde fevereiro que temos vindo a acompanhar a evolução da situação e a preparar as suas estruturas para esta eventualidade. Sabíamos que a atividade iria sofrer constrangimentos, mas não podíamos parar devido à nossa forte presença  no mercado da Saúde e em consequência na linha da frente do combate à pandemia. Parar ou reduzir atividade nunca foram opção. 

Nomeadamente, a ferramenta ADAPTT,​ que falei na primeira resposta, foi disponibilizada ao Ministério da Saúde Português logo a 30 de março, estando a APAH e a Glintt disponíveis para apoio técnico na utilização da mesma e continuamos a desenvolver esforços para a melhoria e evolução desta ferramenta, nomeadamente para o apoio na previsão de quantidades de produtos (e.g. EPI, reagentes) e recursos humanos necessários na comunidade.

Os primeiros dias foram, assim, de organização das equipas para conseguirmos prestar o máximo de apoio aos nossos clientes no menor tempo de espaço possível. Os armazéns da Glintt estiveram sempre abertos, revezando equipas semanalmente protegendo ao máximo as nossas as pessoas. As equipas que podiam trabalhar de forma remota, cerca de 90% das mais de 1100 pessoas que trabalham na Glintt, assim o fizeram e vão continuar até 1 de junho em regime de teletrabalho.


Como olha para o mercado quando tudo isto voltar ao “normal” ou não vai voltar mais a ser normal? 

Olhando em especial para os hospitais, após a Covid-19, a necessidade de aproximarmos os cuidados de saúde da casa das pessoas traz novos desafios, mas facilita muito o acesso e a segurança na prestação de cuidados de saúde.

Acredito que o habitual “normal” já não vai voltar. Não podemos acreditar que com o desligar do Estado de Emergência, a retoma às nossas vidas seja em segurança total. Tal como os surtos da gripe acontecem anualmente e outras doenças de caráter infectocontagioso continuam a infetar pessoas, assim a Covid-19 vai permanecer, até que ciência resolva o desafio da criação de uma vacina. 

Mas esta não é uma visão pessimista, antes uma visão confiante que vamos conseguir ultrapassar todas a dificuldades com a resiliência característica da natureza humana. 

Já Milton Friedman dizia que apenas uma crise – real ou percebida – é capaz de produzir mudanças reais. Quando essa crise acontece, as ações tomadas dependem das ideias que  circulam, daquilo em que acreditamos serem as soluções. Por isso, acredito que nos cabe desenvolver alternativas às soluções existentes, mantê-las vivas e disponíveis até que o impossível do passado se torne o inevitável do presente e construa o novo futuro normal.​​​


Fonte: Computerworld​