O administrador da Agência Nacional de Inovação acredita que o país tem os recursos humanos e a tecnologia necessária para vingar com produção de medicamentos, terapêuticas e outras soluções ao serviço da saúde.

Promover a capacidade disruptiva na ciência e na saúde é o grande objetivo do novo prémio atribuído pela Agência Nacional de Inovação (ANI) em parceria com a iniciativa HINTT - Health Intelligent Talks & Trends, promovido pela Glintt. Em entrevista ao Diário de Notícias no rescaldo da última edição do HINTT, que decorreu em outubro, João Mendes Borga explica que "o Born From Knowledge Awards reconhece projetos de empresas nascidas no conhecimento e que se destacam na atividade de investigação e desenvolvimento (I&D)". O administrador da ANI, que entregará o galardão no evento que se realizará no final do próximo ano, detalha que serão selecionadas candidaturas que cumpram os critérios estipulados: forte base científica e tecnológica, relevância, inovação, grau de colaboração, valorização da propriedade intelectual e o impacto na sociedade.
Para a membro da Comissão Executiva da Glintt, esta "é uma forma de falar sobre inovação", mas também de dar palco e exposição pública a soluções que possam contribuir para aumentar a prevenção, diminuir a doença e melhorar os cuidados de saúde prestados. "Portugal precisa de um tecido empresarial que seja altamente inovador com tecnologia e, neste caso concreto, com a saúde", afirma Filipa Fixe. Esta nova distinção junta-se aos prémios habitualmente atribuídos pela iniciativa, que inclui as categorias de Startup Innovation, Value Proposition, Clinical Outcomes e Patient Safety.
Instituições de saúde, universidades, startups e outras entidades podem candidatar-se a qualquer categoria, sendo que para vencerem o troféu entregue pela ANI não precisam de ser finalistas. As candidaturas estão abertas até ao final de maio e podem ser concretizadas no site HINTT.
Conhecimento ao serviço da sociedade
Apesar de estar abaixo da média europeia (cerca de 2% do PIB), Portugal registou, em 2020, um aumento do valor direcionado para atividades de I&D que atingiu 3,2 mil milhões de euros (1,6% do PIB). Porém, dados divulgados pelo governo e confirmados pelo Eurostat mostram que o investimento direto do Estado tem vindo a diminuir, tornando o valor português o nono mais baixo da União Europeia. "Se valorizamos o conhecimento produzido em Portugal? A minha resposta não pode deixar de ser que não", conclui João Mendes Borga, que acredita ser possível fazer mais neste campo. "A minha perceção é que Portugal tem cinco unicórnios (empresas com avaliação superior a mil milhões de euros), mas Espanha não e tem cinco vezes o nosso tamanho", observa o responsável. Significa isto que existe, em território nacional, capacidade e qualidade na investigação, mas que é preciso reforçar as condições para inovar.
Entre as melhorias necessárias, Filipa Fixe aponta a importância de uma maior colaboração entre as empresas e a academia, de forma a valorizar o conhecimento teórico produzido nas universidades e colocá-lo ao serviço da sociedade. "Sou da opinião que teses de mestrado ou de doutoramento deviam ser, em 90% dos casos, industriais. Os outros 10% continuariam a ser blue skies research que tem de continuar a existir", defende. Por outro lado, diz, "temos de pensar também como é que o digital pode abrir mais a academia à sociedade". Porém, o administrador da ANI lembra que será fundamental aproximar empresários e cientistas. "As pessoas que investigam precisam de conhecer quais são os dramas e problemas", sublinha.
Futuro da saúde
"Ao contrário do que às vezes podemos pensar, em Portugal faz-se ciência de ponta que transforma o mundo", frisa João Mendes Borga, lembrando laboratórios nacionais onde foram testadas vacinas de RNA da Moderna ou ainda o desenvolvimento de um antiviral de largo espectro na Universidade de Coimbra. Por tudo isto, mas também pela qualidade que reconhece aos recursos humanos portugueses, o perito em inovação acredita que o papel de Portugal na saúde "pode ser aquele que quisermos que seja", já que o país tem "as capacidades e as empresas".
A membro da Comissão Executiva da Glintt antecipa que o digital ganhará terreno nos cuidados de saúde ao longo dos próximos anos, em muito impulsionado pela experiência pandémica que mostrou ser possível aplicar a tecnologia à saúde e ao bem-estar. "Já tínhamos muita tecnologia, mas muitas vezes não basta ter tecnologia, também temos de ter uma mudança cultural", afirma. Entre as tendências futuras, identifica a utilização da inteligência artificial na ciência e na medicina, que permitirá "dar um salto gigante" na qualidade dos cuidados prestados, mas também o telecuidado, a saúde ao domicílio e, sobretudo, uma maior utilização dos dados dos pacientes. "Em algum momento temos de perceber a utilidade pública dos nossos dados e da sua proteção, assim como da nossa identidade pessoal", acrescenta João Mendes Borga, que sublinha a importância destas informações para a prevenção, investigação e tratamento.
Fonte: Diário de Notícias