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"Temos de olhar para a saúde de uma forma mais abrangente"

O Prémio HINTT distingue projetos tecnológicos relevantes para a segurança do doente, apoio à decisão clínica e eficiência global.


Inteligência artificial e 5G são tecnologias emergentes que mudarão o relacionamento entre o cidadão e o sistema de saúde. Mas para que a jornada do utente seja eficaz e sem sobressaltos, é essencial garantir a interoperabilidade dos sistemas de informação e a segurança dos dados através de regulamentação clara. 

Se há lição que fica da pandemia de Covid-19 é a de que a tecnologia é uma ferramenta essencial nos diferentes aspetos da vida e do trabalho, mas também na saúde. À semelhança do que aconteceu noutros setores, a adaptação, em poucas semanas, a um conjunto de novas práticas que ajudassem a contornar as limitações impostas pelo primeiro confinamento, evitando uma suspensão total dos cuidados de saúde não Covid, aconteceu também na saúde.

O aumento das teleconsultas é disso exemplo, assim como a monitorização de pacientes crónicos à distância, através de equipamentos que permitem a partilha de dados para acompanhamento clínico. Práticas que já eram tecnologicamente possíveis há vários anos, mas que, em muitos casos, não eram usadas. Se foi suficiente para evitar o caos em alguns serviços, ou o atraso em cirurgias, não. Mas foi, pelo menos, importante para demonstrar que “a tecnologia pode ser um parceiro para que os profissionais de saúde possam ter mais tempo para estar com os doentes e dar mais atenção aos casos prioritários", acredita Filipa Fixe.

Para a Administradora Executiva da Glintt, tecnologias como a inteligência artificial, entre outras, podem ser uma forma de o médico estar mais tempo com os seus doentes e de poder dar-lhes mais atenção. “Se através da tecnologia conseguirmos priorizar os casos que exigem mais cuidados, estaremos a dar mais tempo aos profissionais de saúde para os casos que o exigem, e resolução mais rápida aos casos menos urgentes", disse em entrevista ao Diário de Notícias.

Retiradas as aprendizagens dos últimos dois anos, esta é a oportunidade de repensar o setor da saúde para que ele seja organizado e orientado para o cidadão. “Não devemos focar-nos apenas na gestão da saúde e da doença no contexto de unidades de saúde, temos de gerir o ecossistema da saúde de uma forma muito mais abrangente", defende Filipa Fixe.

Em primeiro lugar, é preciso garantir que a área da saúde assenta toda a sua gestão numa arquitetura de referência que defina, quer a nível das tecnologias de informação e comunicação, quer a nível dos processos, tudo o que é necessário fazer para que as unidades de saúde prestem os melhores cuidados internamente, mas também fora, por exemplo, em modelos de cuidados domiciliários. “Temos de ter uma arquitetura de referência que nos diga quais as exigências de telecomunicações, de sistemas de informação, de tecnologias de informação e comunicação, de como guardamos e como garantimos a interoperabilidade dos dados…", reforça. E se estes requisitos estiverem bem definidos e colocados, de forma clara, em cima de processos que também tenham um objetivo final, será possível medir e ter resultados objetivos ao nível da saúde. E, com isso, “acredito que os profissionais de saúde se sintam mais motivados".


A caminho da visão única do utente

Acrescentar a esta arquitetura as vantagens do 5G abre um conjunto de possibilidades que vão muito além do tratamento da doença, permitindo preveni-la. Uma vertente muito importante na saúde que, em Portugal, ainda está aquém do que se pratica noutros países da Europa.

Desde logo, a criação de cidades inteligentes representa um primeiro passo na prevenção. Com mais tecnologias, mais interligado, este modelo de cidade oferece melhor bem-estar à população, e a possibilidade de ter milhões de dispositivos ligados que trocam informação entre si. “Isto abre portas a que esses dados possam ser recolhidos, tratados e devolvidos aos decisores sob a forma de indicadores". Filipa Fixe exemplifica: “Quando fazemos um zoom in na área da saúde e do bem-estar, falamos, por exemplo, de ter um centro de telemonitorização para doentes crónicos". Um doente crónico poderá ser seguido na sua casa, monitorizado à distância, permitindo avaliar, através da análise de dados, se há parâmetros alterados, evitando episódios agudos de doença.

Outro exemplo, que já aconteceu recentemente em Portugal, passa pela possibilidade de transmitir uma cirurgia, quer do ponto de vista clínico porque estão cirurgiões em diferentes locais, ou porque se trata de uma ação de formação para outros profissionais de saúde. “Para que tenhamos a devida qualidade e rapidez, temos de nos apoiar no 5G", diz a administradora da Glintt que acrescenta que o 5G vai proporcionar a monitorização de doença, mas também da saúde e bem-estar, interligando os dados recolhidos com o registo de saúde eletrónico de cada cidadão.

Recorde-se que este registo é uma das prioridades definida pela Comissão Europeia, que estabeleceu como meta a sua operacionalização até 2030 em todos os países membros. Adicionalmente, a Comissão estabeleceu que os registos de saúde eletrónicos de cada cidadão europeu deve ser 100% online, para ser partilhado dentro da União Europeia, o que exige também a tão falada interoperabilidade. “Devemos caminhar nesse sentido, tendo em conta que os nossos registos de saúde não são apenas os dados colocados pelas instituições de saúde, mas que também nós próprios podemos e devemos contribuir para a sua construção", acredita Filipa Fixe.


5 distinções para os mais inovadores na saúde

Mostrar a importância da tecnologia para cada cidadão poder gerir melhor a sua saúde e a sua relação com o sistema de saúde, mas também para os profissionais no exercício da sua atividade é um dos objetivos do HINTT (Health Intelligence Talks and Trends), um evento anual, promovido pela Glintt, que visa ser uma ação de partilha de conhecimento e de reflexão sobre o futuro do estado da saúde, a nível nacional e internacional, tendo como foco o cidadão e a tecnologia.

A iniciativa, que terá este ano a 6ª edição, inclui o Prémio HINTT | Maturidade Digital, cujas candidaturas estão abertas até 15 de julho.

​“O HINTT nasce para dar palco ao que de melhor se faz em termos de inovação, tecnologia e ciência na área da saúde em Portugal", explica Filipa Fixe. Os candidatos podem submeter os seus projetos a quatro categorias - StarUp Innovation, Value Proposition, Clinical Outcomes, e Patient Safety -, a que se junta este ano uma quinta (Born from Knowledge - Bfk), numa parceria com a Agência Nacional de Inovação (ANI). “Temos categorias dedicadas a instituições que fazem implementação de projetos nas mais diferentes áreas, ou a própria gestão de processos dentro do contexto da saúde, por forma a percebermos como é que a tecnologia pode fazer a diferença em processos de saúde que estão muito bem delineados", reforça.

A nova categoria 'BfK Awards' visa distinguir os projetos que “nasçam do conhecimento" e as empresas que mais se destaquem em atividades de Investigação & Desenvolvimento, e será entregue a um dos 10 finalistas. No entanto, esta não é uma categoria à qual se devam submeter projetos, mas sim um prémio extra que um dos projetos finalistas está habilitado a receber. Ou seja, explica Filipa Fixe, “pode ser entregue a um finalista ou a um dos quatro vencedores".

Depois de encerradas as candidaturas, o processo de seleção será feito por um júri composto por um conjunto de especialistas nas áreas da saúde e da tecnologia, do qual fazem parte José Martins Nunes, Presidente do Júri e Membro do Alto Comissariado para o World Health Summit; Nuno Sousa, Presidente da Escola de Medicina da Universidade do Minho; Ana Paula Martins, Ex-Bastonária da Ordem dos Farmacêuticos e Diretora de Assuntos Governamentais da  Gilead Sciences; Jorge Penedo, Médico e Vice-Presidente do Conselho Regional do Sul; e António Ferreira, Presidente da Comissão Nacional para os Centros de Referência.

Os projetos dos 10 finalistas serão apresentados durante o HINTT, a 13 de outubro no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, data em que serão anunciados os vencedores.

O evento, enquanto 'montra' de projetos de referência a nível nacional, permite que as instituições e as equipas partilhem entre si ideias que podem resultar em novos projetos ou novos modelos de implementação das soluções propostas, garantindo um maior impacto, tanto para as entidades de saúde como para os utentes. “São, cada vez mais, os projetos que não são realizados apenas por um perfil de profissionais, mas sim por equipas multidisciplinares que vão da engenharia às ciências da vida, incluindo novas tecnologias e tecnologias emergentes", acrescenta Filipa Fixe, reforçando que são projetos, na sua maioria, com uma avançada maturidade digital, pilotos ou não, que – apesar de embrionários – reúnem um enorme potencial tecnológico para a área da saúde, privilegiando sempre o conceito de patient centered.​​


Fonte: Diário de Notícias