Ignorar Comandos do Friso
Saltar para o conteúdo principal

Plataforma de inovação da Glintt apoia projetos internacionais

Colaborar com projetos digitais na área da saúde que resolvam problemas faz parte do posicionamento da Glintt. Esse "apadrinhamento", que ganhou massa crítica dentro de portas, está a expandir-se para fora de Portugal.

​​

Primeiro surgiu a necessidade de ter uma plataforma que agregasse as ideias e projetos de inovação na área da saúde digital que estavam a ser desenvolvidos "dentro de casa" e, assim, em 2018, nasce a Glintt Inov​​, no seio da tecnológica que lhe dá nome. Depois, o hub de inovação interna da Glintt – Global Intelligent Technologies abriu a porta a clientes e parceiros para incubarem, ali, as suas próprias inovações. E, agora, foi atingida outra nova fase, com a abertura da Glintt Inov ao ecossistema internacional, que envolve a participação em iniciativas de âmbito europeu financiadas por fundos comunitários.

Em cerca de dois anos, o investimento em inovação na área da saúde digital, juntando fundos comunitários, investimento privado e capital colocado pela Glintt, soma cerca de 4 milhões de euros. “Isto inclui não só produtos disruptivos como desenvolvimentos inerentes ao nosso próprio road map (plano estratégico) que consideramos que são inovadores para a digitalização da saúde”, esclarece ao Expresso o diretor executivo da Inov Solutions da Glintt, Hugo Maia.

O mesmo responsável revela que “a internacionalização não foi um processo propositado. Começámos a Inov ao nível interno para dinamizarmos o espírito de inovação dentro das equipas da própria Glintt. Entretanto decidimos abrir as portas a outras colaborações, em particular com a academia, desde a Universidade Nova, à Faculdade de Engenharia do Porto ou ao Instituto Superior Técnico”.

Ao alargarem os horizontes não só ao mundo académico, mas também a outras entidades, “começámos a receber diversos projetos no nosso portal de inovação” que dirigiram a Glintt Inov para outras paragens. Na realidade, indica Hugo Maia, “temos desafiado e temos sido desafiados para projetos em consórcio”. Além disso, “a própria génese da Glintt” assume um cunho internacional: a tecnológica pertence ao universo empresarial da Associação Nacional das Farmácias (ANF) e resulta de uma parceria entre a Consiste – que desenvolveu o software para o sistema operativo da rede de farmácias em Portugal – e a ParaRede, numa fusão que levou o negócio até às farmácias de Espanha. País que est​á, naturalmente, no radar da Glintt Inov.


Glintt pisca o olho às startups

A Glintt está a participar, em simultâneo, em três parcerias europeias de inovação, que envolvem 1,2 milhões de euros – 30% a cargo da Glintt e o restante são fundos comunitários –, bem como no projeto European Data Incubator (EDI) – cofinanciado pela União Europeia, através do programa-quadro Horizonte 2020.

O EDI tem como alvo startups europeias que são desafiadas para resolver um problema na área da big data (tratamento de grandes volumes de informação) e da inteligência artificial, em conjunto com pequenas e médias empresas (o valor atribuído por projeto pode chegar aos 100 mil euros dependendo das várias fases que forem ultrapassadas).

No caso da Glitt Inov, a participação é feita em parceria com a hmR (faz estudos de mercado na área da saúde, nomeadamente de monitorização do mercado do medicamento para os clientes da indústria farmacêutica), que tal como a tecnológica pertence à ANF. A hmR e a Glintt levaram a "concurso" a necessidade de existirem algoritmos que, aplicados aos dados obtidos pela hmR, permitam fazer previsões para o futuro, “já que agora só é possível ter um retrato do que já aconteceu”, indica Hugo Maia.

Três das startups selecionadas para continuarem "em jogo" estão a solucionar o problema da hmR, numa colaboração em que a Glintt dá suporte tecnológico, bem como conhecimento e experiência, numa espécie de mentoring às empresas emergentes, que são todas portuguesas, apesar de serem várias as nacionalidades entre as mais de 200 que apresentaram candidatura no EDI.

“A nossa presença vai muito além das farmácias, temos clientes no sector hospitalar, bem como clínicas médicas, e em várias áreas da administração pública, ou seja, é um ecossistema que permite viabilizar pilotos de algumas startups que, por vezes, têm uma grande dificuldade de acesso a dados, de entrar nas empresas e de, assim, validarem o seu modelo de negócio”, adianta Hugo Maia. A aposta em empresas emergentes surge, então, da identificação da capacidade da Glintt Inov para servir de incubadora de novas apostas, o que pode ir desde apoiar a ideia, à criação da startup, passando pela procura de financiamento e até, caso haja sucesso, “a possibilidade de realização de um piloto num cliente real”.

hugo-maia-inov-glintt-inoovation.jpg


Comodidade, vida ativa e segurança

Além da participação neste projeto europeu, a Glintt está a colaborar em três outras iniciativas de inovação internacionais, que igualmente têm financiamento de Bruxelas. Mais uma vez, o objetivo da Glintt Inov é contribuir para desenvolver uma solução digital para um problema específico da comunidade na área da saúde, o que está a ganhar forma através do WoW, PHArA-ON e Ativas.

No caso do WoW – Wireless Biomonitoring Stickers​, estão a ser desenvolvidos adesivos eletrónicos que aderem à epiderme humana e recolhem dados fisiológicos e comportamentais. “É uma tecnologia que muda a forma como os doentes podem ser monitorizados (estamos habituados a ver uma parafernália de fios nos pacientes internados em hospitais), já que permite fazer esse controlo à distância com as pessoas em casa”, indica Hugo Maia. A Glintt lidera o projeto (fornece toda a conectividade entre o dispositivo e os sistemas de recolha da informação) e, como utilizador final, aparece o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, com um amplo historial de Investigação e Desenvolvimento e inovação. O projeto tem o apoio do Compete 2020 no âmbito do programa parcerias internacionais da Carnegie Mellon University Portugal, arrancou em abril de 2020 e irá terminar em março de 2023.

O PHArA-ON é o maior dos três projetos ao reunir um consórcio de 41 parceiros de doze países que estão a trabalhar em soluções para que a população europeia idosa se mantenha ativa. “Tem que ver, sobretudo, com o acompanhamento de doentes com mais idade, permitindo-lhes ter uma vida normal”, esclarece Hugo Maia. “Isso será feito através da monitorização da sua vida em casa e nas suas atividades quotidianas”, com o recurso a um conjunto de plataformas abertas integradas, personalizáveis e interoperáveis com serviços, dispositivos (como pulseiras e sensores) e outras ferramentas, incluindo internet das coisas, inteligência artificial, robótica, nuvem, dispositivos inteligentes e big data. No âmbito do PHArA-ON, a Glintt irá desenvolver e validar as soluções em conjunto com várias entidades nacionais, nomeadamente a Santa Casa da Misericórdia da Amadora. Os pilotos do PHArA-ON serão testados em cinco países e o projeto, que termina em novembro de 2023, é financiado pelo programa Horizonte 2020 da Comissão Europeia e pela Glintt.

A vida saudável também está na génese do ActiVas que pretende criar um ambiente assistido que permita um quotidiano ativo e seguro, ou seja, com condições promovem a saúde, em linha com o PHArA-ON. As soluções que estão a ser desenvolvidas têm impacto em várias vertentes: suporte à rede de cuidados de proximidade, promoção das funções das pessoas através da estimulação física e cognitiva, bem como a integração de sensores em mobiliário. “Simplificando, é a possibilidade de criarmos espaços inteligentes nas habitações, o que permite saber de forma remota se uma pessoa se alimentou ou se tomou os medicamentos ou detetar quedas através de sensores colocados no chão”, explica Hugo Maia. O projeto é composto por vinte parceiros que estão a fazer investigação industrial e desenvolvimento experimental, numa cooperação que envolve os clusters Habitat Sustentável, TICE.PT e Health Cluster Portugal. É financiado via Portugal 2020 e pela Glintt, arrancou em julho de 2020 e irá ficar concluído em junho de 2023.

Sobre a questão da privacidade e da proteção de dados, Hugo Maia garante que essa preocupação “está sempre presente em qualquer um dos projetos da Glintt”, que são escrutinados pelos departamentos responsáveis por acautelar a segurança e cumprimento das regras vigentes.


Pandemia acelera digitalização da saúde

E o que faz a Glintt apostar numa determinada ideia? “Em primeiro lugar, tem de estar de acordo com a nossa visão para a área da saúde e na Glintt acreditamos que este sector é o que mais precisa de se reinventar e de se digitalizar. Esse é um processo colaborativo que tem três atores fundamentais: os profissionais de saúde, os doentes e os cuidadores”. Ou seja, “os cuidados estendem-se além das paredes dos hospitais. E o propósito da Glintt Inov é contribuir para “uma saúde conectada e remota”.

Um exemplo? Há cada vez mais experiências e hospitalização domiciliária em que as equipas de saúde se deslocam a casa dos doentes, em Portugal inclusivamente, sinaliza Hugo Maia, acrescentando que a aposta da tecnológica é “dar um passo em frente” e possibilitar a monitorização remota, através de aparelhos digitais, desses doentes (caso do projeto WoW). Muito importante é que as pessoas “participem na gestão do seu processo de saúde”, onde a tecnologia é um facilitador pois permite essa intervenção ao colocar ao dispor de todos nós a informação clínica que é recolhida e que, depois, serve para a tomada de decisão dos profissionais médicos, numa ligação que deve ter em conta em cuidadores informais.

A pandemia de covid-19 veio acelerar esta transformação, aponta ainda Hugo Maia, pois, embora pareça um paradoxo, o novo coronavírus – que virou o mundo do avesso – está a contribuir para futuros ganhos de saúde ao incrementar projetos que permitem estar ao lado do paciente de forma remota. Fervilham ideias e a Glintt Inov, enquanto plataforma que agrega e promove projetos no âmbito da saúde digital, está numa posição privilegiada para fazer parte da mudança, considera o diretor para a inovação da empresa. E, de facto, a equipa foi chamada a desenvolver tecnologias para auxiliar no combate ao SARS-CoV-2.

“A disponibilização de teleconsultas foi, talvez, a área que teve maior relevo, mas a mudança foi além disso”, refere o responsável e lembra que a Glintt esteve envolvida no ADAPTT Surge Planning Support Tool. É um instrumento, criado em conjunto com a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, para fazer o planeamento de necessidades para a resposta à Covid-19 e que foi cedido, “a título gracioso”, à Organização Mundial de Saúde e que passou a ser usado “por um conjunto de hospitais europeus”.

O desenvolvimento de algoritmos de triagem para detetar doentes infetados foi outro dos serviços prestados pela tecnológica portuguesa a diversas unidades hospitalares nacionais.

Para Hugo Maia é essencial que o financiamento que virá da União Europeia seja utilizado para “fazer diferente” e não para replicar a realidade existente no final de 2019 ao nível do sector da saúde digital, “ligando todas as peças do puzzle: hospitais, clínicas, farmácias, rede de cuidados continuados, profissionais de saúde, doentes, cuidadores”.​


Fonte: Expresso