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Como é que a tecnologia veio revolucionar os Sistemas de Saúde

Por Filipa Fixe, Administradora Executiva da Glintt

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Apesar de as condições tecnológicas já existirem antes, a COVID-19 veio impulsionar a "mudança cultural" necessária para a massificação da implementação e utilização das novas tecnologias. Esta pandemia veio, sem dúvida, acelerar, num período de meses a transformação digital no setor da Saúde, que, em condições normais, demoraria anos, com impacto direto sobre todo o ecossistema, desde as unidades hospitalares às farmácias.

Desta forma, o recurso a ferramentas baseadas em Inteligência Artificial ou a prestação remota de cuidados de saúde (via teleconsulta) posicionaram-se, definitivamente, como um meio auxiliar e imprescindível para melhorar a qualidade dos serviços prestados, bem como se tornaram uma garantia da sustentabilidade dos sistemas de saúde, que permitiram simplificar ajornada terapêutica de cada indivíduo no contexto do Sistema Nacional de Saúde.

Não sendo a tecnologia um fim em si mesma, mas um meio para uma melhor qualidade de vida, já não é possível falar de saúde sem considerar o papel desta. As unidades de saúde e as farmácias, por exemplo, tomam cada vez mais partido das tecnologias de informação e de comunicação, que já se tornaram um apoio fundamental no seu dia a dia, ao permitir que os softwares possibilitem criar perfis e acompanhar cada utente, desde a fase da prevenção ao tratamento, facilitando assim melhores cuidados de saúde a custos controlados.

Outro exemplo claro é a linha de Saúde24 que, à distância de um contacto telefónico, não só auxilia o cidadão no diagnóstico, como também permite identificar os casos mais graves que devem seguir para as urgências hospitalares, facilitando assim o trabalho dos profissionais de saúde, libertando a pressão nos serviços hospitalares tipicamente muito dispendiosos.

Neste sentido, também as ferramentas de eHealth (telemedicina, telemonitorização, IA, machine learning...) vieram claramente para ficar muito para além da pandemia atual de COVID-19. Com um crescente interesse e disponibilidade entre médicos, consumidores e pagadores, este é o momento de estimular e garantir a continuidade destas tecnologias no ecossistema alargado da saúde. Como referiu Robert Schuller, Tough Times Never Last, but Tough People Do. Sendo que a telemedicina, em concreto, não substitui as consultas presenciais com os profissionais de saúde, esta deve ser considerada no sentido de facilitar uma relação entre médico/enfermeiro - utente baseada na continuidade, proximidade e confiança, de forma a garantir os melhores resultados em saúde.

Tendo em conta a alta taxa de transmissão deste vírus, a telemedicina e telemonitorização podem ser, sem dúvida, fortes aliados dos sistemas de saúde, principalmente quando se considera a importância da prevenção e a necessidade de não sobrecarregar os hospitais e outras instituições de saúde. Veja-se, por exemplo, o caso das triagens num hospital. Para o cidadão, este é um momento caracterizado por longas horas de espera em que não existe qualquer troca de informação. Para um consumidor moderno, habituado a ter a conta bancária sempre à mão, este cenário tem de mudar urgentemente. A triagem podia ser feita, por exemplo, por um algoritmo pré-definido e/ou com um chatbot, dependendo da severidade, que identifica se o utente tem de ir para uma sala de urgência, se pode ser atendido remotamente (em contexto de teleconsulta), ou se será mais apropriado dirigir-se a uma unidade de cuidados de saúde primários.

Por outro lado, também a jornada de saúde e bem-estar de cada indivíduo deve ser cada vez mais sustentada em tecnologia. Uma estratégia inovadora para obtenção de melhores resultados em saúde pode passar pelo recurso a soluções baseadas em gamificação facilmente acessíveis via smartphone. Em contexto de doença crónica, a monitorização do estado do cidadão pode ser realizada de forma remota, garantindo que a recolha dos parâmetros em tempo real permite antecipar e evitar eventos agudos com impacto profundo na qualidade de vida. Se, existir, por exemplo, uma APP, que disponibilize exercícios de fisioterapia, contribuindo para uma recuperação motora mais célere, que evitará deslocações a um centro urbano e que contribua para a poupança de custos, tanto na perspetiva do doente como do Serviço Nacional de Saúde, porque não implementá-la?

Perante este contexto, torna-se urgente estar à frente da mudança tecnológica, com recurso a serviços que coloquem o cidadão no centro e no qual a tecnologia é um meio para atingir o fim - o acesso a cuidados de saúde equitativos e de qualidade para todos, com base em princípios de eficiência e com respeito pela sustentabilidade do sistema.

Com o apoio da tecnologia, conseguimos aliviar o sistema e melhorar a perceção do utente sobre os sistemas de saúde. Por outro lado, estamos também a permitir que os médicos, enfermeiros, terapeutas e restantes profissionais de saúde se possam dedicar aos casos que necessitam efetivamente de mais atenção e intervenção humana e/ou clínica, sendo que a tecnologia tem de servir como um apoio, tanto do ponto de vista administrativo como médico, poupando tempo e reduzindo custos.

Efetivamente, os profissionais de saúde, com maior apetência para o recurso a soluções digitais, reconhecem a existência de um mundo de oportunidades no que à utilização de tecnologias como a IA, a loT e a Telemedicina no setor da saúde dizem respeito. No entanto, torna-se iminente que estas ferramentas ganhem maturidade, assim como se deve apostar na credibilidade e na usabilidade deste tipo de soluções, para que cada vez mais os profissionais de saúde e os administradores hospitalares possam introduzi-las no seu dia a dia e acima de tudo, para que cada indivíduo não apresente tanta resistência à sua utilização diária. 


Fonte: Business IT (revista física)​​

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